CIENCIA

LHC cria mini Big Bangs e não destrói a Terra

Redação do Site Inovação Tecnológica - 08/11/2010
LHC cria mini Big Bangs e não destroi a Terra
Simulação do resultado de uma colisão de íons de chumbo. O experimento ALICE está registrando as colisões reais, provavelmente muito parecidas com esta. [Imagem: CERN]

O mundo não acabou, de novo
Eram 21h30 deste domingo, dia 07 de Novembro, e tudo aconteceu rápido demais. Tão rápido que não havia nem um só catastrofista de plantão.
Primeiro, os cientistas arrancaram os elétrons de átomos de chumbo, transformando-os em íons. A seguir, aceleraram esses íons a velocidades altíssimas, e os fizeram colidir uns contra os outros.
O resultado foi que o homem finalmente conseguiu criar mini Big Bangs, reproduções em escala reduzida daquilo que deve ter acontecido quando nosso Universo foi criado.
Mas, ao contrário do que alguns poucos esperavam, o mundo não acabou.
Buracos negros do LHC
Tudo aconteceu dentro do LHC, que já foi chamado de Máquina do Fim do Mundo e de Máquina do Começo do Mundo.
Alguns físicos ganharam seu momento de fama ao apregoarem que tais choques de partículas poderiam criar buracos negros que destruiriam a Terra.
Com tamanha controvérsia, talvez o grande destaque do feito inédito do LHC, ao menos nesse primeiro momento, devesse então ir para o que não aconteceu: os "buracos negros do LHC" não destruíram a Terra.
Mas será que alguém esperava mesmo por isso - além dos proponentes da ideia, é claro?
Na verdade, os físicos gostariam muito que essas colisões pudessem criar buracos negros microscópicos. Embora isso seja improvável - e esses micro buracos negros seriam pequenos demais para fazer qualquer estrago - seria uma descoberta muito interessante - veja Colisão de partículas pode de fato criar buracos negros.
Mini Big Bangs
O fato mais importante, contudo, é que as colisões de chumbo estão se dando como esperado e os detectores estão registrando os dados.
Os cientistas levarão meses para analisar todos esses dados - e só então será possível conhecer a que conclusões eles levam - mas há motivos para muito entusiasmo.
LHC cria mini Big Bangs e não destroi a Terra
Detlef Kuchler, físico do CERN, mostra um pedaço da fonte de chumbo usada para criar os íons pesados que se chocam dentro do LHC. [Imagem: M. Brice/CERN]
Ao serem acelerados ao longo dos 27 quilômetros do anel do LHC, os íons de chumbo alcançaram uma energia de 287 TeV (tera-elétron-Volts). Isto é muito mais alto do que a energia alcançada quando o LHC estava colidindo prótons porque os íons de chumbo contêm 82 prótons cada um.
Isto permitirá que os cientistas estudem o que existia quando o Universo tinha apenas alguns milionésimos de segundo de idade - veja LHC vai começar a estudar o Big Bang.
"Este processo ocorre em um ambiente seguro e controlado, gerando bolas de fogo incrivelmente quentes e densas, com temperaturas de mais de 10 trilhões de graus, um milhão de vezes mais quentes do que o centro do Sol," explica o Dr. David Evans, participante do experimento ALICE, especialmente projetado para estudar os mini Big Bangs.
O choque dos íons cria um estado da matéria chamado de plasma de quark-glúon, alcançando temperaturas de 10 trilhões de graus Celsius, quando os núcleos de chumbo derretem e esfacelam-se em seus elementos constituintes.
"Os físicos esperam aprender mais sobre a Força Forte, uma das quatro forças fundamentais da natureza. A Força Forte não apenas mantém coeso o núcleo dos átomos, mas é também responsável por 98% de sua massa," diz Evans.
Esse é, na verdade, um dos grandes problemas da física atual que a comunidade científica espera que o LHC ajude a resolver: de onde vem essa massa - veja mais em Em busca da "Partícula de Deus".
Para os que ficaram decepcionados com ao perder a oportunidade de encarar um buraco negro frente a frente, outros cientistas já propuseram uma receita para criar buracos negros em laboratório.

Grande Colisor de Hádrons quebra recorde de maior temperatura já criada pelo homem

Cientistas do Grande Colisor de Hádrons dizem que, ao colidir dois íons de chumbo, eles chegaram à temperatura mais quente que a humanidade já atingiu. De acordo com um porta-voz do projeto, estima-se que eles chegaram a 5,5 trilhões de graus Celsius.A colisão criou uma “sopa” de plasma com partículas subatômicas – glúons e quarks – que chegou à maior temperatura já criada pela humanidade.Os cientistas ainda vão medi-la com toda a precisão necessária, mas o consenso é de que ela vai ultrapassar o recorde anterior, de 4 trilhões de graus. O número chegaria a 5,5 trilhões de graus Celsius.

E esta pode nem ser a temperatura mais alta de todos os tempos. Cientistas do RHIC (Colisor Relativístico de Íons Pesados), no Labroatório Brookhaven (EUA), ainda estão tentando descobrir a temperatura de um plasma que eles criaram no mês passado.

Resumindo: dois laboratórios, um na Europa e outro nos EUA, podem ter quebrado o recorde da maior temperatura já criada pelo homem. É uma temperatura tão alta e tão temporária que eles ainda não conseguiram medi-la em graus. Não importa quem quebrou o recorde: todos ganham, porque ciência é demais. [Nature e RHIC]


Uso da fusão nuclear para produzir energia está mais próximo

Cientistas americanos acabam de dar um importante passo rumo à produção de energia por fusão nuclear

Eduard Dewald / LLNL
Experimento de fusão nuclear no Lawrence Livermore National Laboratory
Fusão nuclear: a cápsula é bombardeada com raio laser para iniciar o processo
São Paulo -- Cientistas americanos acabam de atingir um ponto de virada nas pesquisas sobre fusão nuclear. Pela primeira vez, eles construíram um reator de fusão que consegue produzir mais energia do que consome.
O marco é importante, já que pesquisas vêm sendo feitas há décadas para atingi-lo. Desde que a primeira bomba termonuclear (também chamada bomba de hidrogênio ou bomba H) foi detonada, há mais de 60 anos, há gente tentando usar esse processo para produzir energia.
Na fusão nuclear, dois átomos leves se unem formando outro mais pesado e liberando enorme quantidade deenergia. É oposto da fissão, o processo empregado nos reatores nucleares atuais, em que um átomo pesado se divide em dois, liberando energia.  
A fusão ocorre de forma continuada no Sol e em outras estrelas. Produzir energia com ela, porém, envolve imensos desafios. 
Os cientistas americanos fizeram seu experimento no National Ignition Facility, uma central de raios laser de alta intensidade que é parte do Lawrence Livermore, laboratório na Califórnia especializado em armas nucleares.
Os pesquisadores colocaram uma diminuta quantidade de trítio e deutério, dois isótopos de hidrogênio, numa cápsula do tamanho de uma tampinha de caneta. 192 potentes feixes de raio laser ultravioleta são usados para bombardear esse “combustível”. 



O Google quer que você viva eternamente

A Google anunciou a Calico, uma nova empresa que vai se concentrar na saúde e bem-estar. Mas seu objetivo final é ampliar radicalmente a vida humana


Ao lançar a Calico, o CEO do Google, Larry Page, espera resolver alguns dos problemas mais prementes da saúde. E fazendo isso, a empresa espera ser uma grande jogadora – se não a maior – nos esforços crescentes para retardar, ou mesmo impedir, o processo de envelhecimento dos seres humanos.
Várias pesquisas com tal objetivo já estão em andamento. Um bom exemplo é a iniciativa da Aubrey de Grey. O investidor Peter Thiel injetou milhões de dólares em pesquisas de rejuvenescimento por meio da biotecnologia . E, claro, há uma miríade de estudos que procuram estender o tempo de vida de ratos e outros organismos. Agora, o Google, em parceria com a Apple, entra em cena.Arthur D. Levinson, presidente e ex-CEO da Genentech e presidente do conselho de administração da Apple, foi nomeado Diretor Presidente e um investidor da Calico.“Dediquei grande parte da minha vida à ciência e tecnologia, com o objetivo de melhorar a saúde humana”, disse Levinson. “O foco de Larry no prolongamento da vida ou quem sabe da imortalidade inspirou-me, e eu estou extremamente empolgado com o que está por vir.”
 Na nota oficial, o Google não revelou quais áreas da saúde serão atendidas pela Calico, muito menos os projetos que a empresa tem em mente.No entanto, é provável que o foco inicial seja lançar uma nova luz sobre doenças relacionadas à idade. Fontes próximas ao projeto sugerem que a Calico vai começar com um pequeno número de funcionários e se concentrar inicialmente na pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias. [io9]

O futuro já aconteceu

Você sabe o que vai fazer hoje à noite? Faz idéia de comovão ser os seus bisnetos? E o dia da sua morte? Para a ciência, tudo isso já foi resolvido. E seu livre-arbítrio não existe

porAlexandre Versignassi

Existe um lugar mágico, onde o tempo não passa no mesmo ritmo pra todo mundo. Nenhum relógio marca a mesma hora. E o futebol é um caos. Enquanto um torcedor vê o Ronaldo deles partindo para a grande área com a bola dominada, outro já viu o gol acontecer. Para alguns, o jogo ainda nem começou; para outros, já aconteceu há 50 anos. Um nó.
Num mundo desses, o que ainda é futuro para você já estaria gravado na memória de outro. Seu filho pode nem ter nascido. Mas para o vizinho da direita ele já tem seis anos. Para o da esquerda, 20, e acaba de ser contratado pelo Real Madrid. Quer dizer, você pode ainda nem ter resolvido se vai ou não usar um contraceptivo hoje à noite. Mas não tem o que fazer: em 20 anos vai ser pai de um jogador milionário. Se isso já aconteceu para outra pessoa não tem mais como ser mudado. O que é passado já está escrito, certo? Então o futuro também está. E a liberdade de escolha, a sensação de livre-arbítrio, não passa de ilusão nesse lugar de futuro fixo. As pessoas têm tanto poder para determinar seu amanhã quanto uma pedra tem para escolher o dela.
Esse mundo, por sinal, foi desvendado em 1905 por um funcionário público alemão, e, nos últimos anos, vem inspirando algumas das teorias científicas mais radicais da história. Coisas que deixam qualquer ficção no chinelo.
Ah, mais dois detalhes: o nome do tal descobridor é Albert Einstein. O do lugar mágico, nem precisa dizer: a gente vive nele.
O sonho de Einstein
Vive sim. Só não temos esse problema com jogos de futebol e vizinhos que moram no futuro porque as maluquices do tempo na realidade que a gente enxerga são infinitesimais. Mas todas as propriedades do “mundo mágico” estão aqui mesmo: no fundo, nenhum relógio marca a mesma hora, ninguém vive o mesmo presente.
Ou, como disse o alemão numa carta de 1955: “A distinção entre passado, presente e futuro é só uma ilusão, ainda que persistente”. Mas por que ilusão? Poucas coisas são mais concretas que a passagem do tempo. A gente nasce sabendo que as horas passam no mesmo ritmo pra mim e pra você, que corremos para o futuro juntos. Mas Einstein descobriu que não: no mundo de verdade a gente viaja pelo tempo toda hora. Seu próprio corpo é uma máquina do tempo. Bem menos potente que o De Lorean de De Volta para o Futuro, mas é. Einstein explicou que o tempo não é uma coisa etérea, mas um lugar. Uma dimensão por onde a gente caminha sem parar. Tipo: enquanto você está sentado, lendo esta revista, os segundos continuam passando, certo? Então é como se você cruzasse o tempo num trem invisível agora mesmo.
Até aí, nada demais. Agora é que vem a sacada: o alemão estipulou que esse trem anda a uma velocidade que pode ser medida em “quilômetros por hora": exatamente 1,08 bilhão de km/h, a velocidade da luz.
E viu algo mais perturbador ainda: tempo e espaço são basicamente a mesma coisa. O casamento dos dois forma uma paisagem invisível: a do espaço-tempo. Então agora mesmo você pode dizer que está correndo à velocidade da luz através desse espaço-tempo. Claro que todo o 1,08 bilhão de km/h está sendo usado para mover só o tempo mesmo. Mas que você está a essa velocidade agora, está.
Mas tem um problema: para Einstein, nada pode atravessar o espaço-tempo mais rápido que a luz. Então se você já corre a 1,08 bilhão de km/h na “metade tempo” dessa paisagem, não tem de onde tirar velocidade para a “metade espaço".
Mas espera aí. E se você levanta pra pegar um copo d`água? Vai precisar de uns 5 km/h na “metade espaço” para andar até a cozinha, certo? Essa velocidade tem de sair de algum lugar. Mas de onde? Da única fonte disponível: os motores que empurram o tempo.
Então você tira 5 km/h de lá pra andar até a cozinha. E a velocidade com que você atravessa o espaço-tempo fica redistribuída: 10 km/h vão para o espaço e 1,07999... bilhão de km/h para a do tempo. A velocidade do tempo funciona que nem um banco. Ela empresta quilômetros por hora para tudo o que se move. Mas essa agiotagem tem preço: faz seu relógio perder velocidade. O tempo começa a passar mais devagar para você. E é aí que o mundo mágico de Einstein começa a dar as caras.
Olha um exemplo de verdade: sentado na poltrona, você atravessa o tempo a 1,08 bilhão de km/h, já que seu trem está correndo a todo vapor, ok? Isso significa que 30 segundos vão passar em 30 segundos mesmo, sem mistério. Mas aí você arruma um Porsche e resolve sentar o pé na estrada. Chega a 180 km/h, por exemplo. Para Einstein, isso quer dizer que você pegou 180 km/h emprestados lá do banco do tempo.
Então seu relógio fica andando mais lento: um período que durava 30 segundos cravados quando você estava imóvel vai ter passado em exatamente 29,99999999999952 segundos. Enquanto a Porsche acelera você, ela freia o seu relógio. Mas só o seu. Do lado de fora do carro a velocidade do tempo continua igual. E o resultado é insólito: depois de uma hora com o pé embaixo no carro você vai ter envelhecido 0,0000000576 milésimo de segundo a menos do que tudo o que está lá fora. Isso mesmo. Seu relógio “biológico” também andou mais devagar. Tudo envelheceu um pouco mais rápido que você. As pessoas, as pedras, o Sol, a galáxia de Andrômeda... Tudo. E em que “lugar” tudo é mais velho do que hoje? No futuro. Depois de uma hora a 180 km/h, você viaja 0,0000000576 milésimo de segundo para o futuro.
Mas caramba. Tanta falação pra chegar nessa merreca? Pois é. O problema é que as velocidades que a gente vive no dia-a-dia são pequenas demais. Não dá para perceber esse efeito minúsculo delas sobre a passagem do tempo. Nem astronautas que já experimentaram velocidades de 40 000 km/h conseguiram fazer um rombo marcante no relógio deles. O crédito de 1,08 bilhão de km/h é generoso.
Mas quando a velocidade aumenta muito, o empréstimo começa a fazer diferença no caixa. Se esse Porsche andasse a mais ou menos 1 bilhão de km/h, por exemplo, o seu “banco do tempo” entra à beira da falência. Agora o mundo mágico aparece de vez.
Assim: imagine que alguém esteja num bar de beira de estrada. Chega um ladrão. São 12h15 e o bandido está nervoso, com um revólver apontado para o rosto do cara, pronto pra atirar. Então você passa com o Super Porsche pela rodovia, a 1 bilhão de km/h. Nesse momento, seu relógio também marca 12h15. Então o que você enxerga pela janela quando passa em frente ao bar? O homem sendo ameaçado? Não.
Os 1 bilhão de km/h fizeram o tempo passar mais devagar para você, lembra? Quando o seu relógio marcar 12h15 já vão ser 12h30 lá fora! A velocidade maior fez o seu tempo dar uma bela freada. Só o seu, note bem. O do resto do mundo continuou correndo no ritmo de sempre. Você foi ultrapassado pelo tempo. Em outras palavras: viajou para o futuro.
Então o que você enxerga quando passa em frente ao bar? Um cadáver. Ou o bandido preso... Seja o que for vai ver uma coisa que, para o homem que está com um revólver na fuça, ainda não foi decidida.
Esse é o paradoxo: você e o rapaz ameaçado estão vivendo o mesmo instante. Um momento que os dois chamam de “agora”. Mesmo assim, o que para ele é futuro é uma coisa que já está gravada na sua memória. Faz parte do seu passado.
E dá para ir mais longe. Einstein mostrou que distâncias muito grandes também acabam com a idéia de que exista um “agora” igual para todo mundo.
Para alguém em outra galáxia, por exemplo, o momento em que você lê essa página pode ser entendido agora mesmo como um passado distante (veja quadro na próxima página). “A concepção dele sobre o que existe neste momento no Universo pode incluir coisas que parecem completamente abertas para nós, como o vencedor das eleições presidenciais dos EUA de 2100. Os candidatos ainda nem nasceram, mas na idéia dele sobre o que acontece exatamente agora já vai estar o primeiro presidente americano do século 22”, escreveu o físico Brian Greene, da Universidade Columbia, nos EUA, em seu livro The Fabric of the Cosmos (O Tecido do Cosmos), inédito em português. Parece estranho, mas para a ciência o ponto de vista de alguém num carro a 1 bilhão de km/h ou em outra galáxia é tão válido quanto o seu. Se ele é teoricamente possível, não pode ser desprezado.
E aí vem o ponto crucial. Se dá para dizer que o nosso futuro já aconteceu. Que poder a gente tem para escolher como vai ser o dia de amanhã? Onde vai parar nosso livre-arbítrio?
“Desaparece. O universo de Einstein, o da Teoria da Relatividade, não aceita a liberdade de escolha. O jeito como as nossas vidas se desdobram, do nascimento até a morte, está mesmo escrito. As escolhas que ainda vamos fazer já estão impressas no tecido da realidade. Tão impressas quanto as escolhas que a gente fez no passado” diz o filósofo especializado em física Oliver Pooley, do Centro de Filosofia da Ciência da Universidade Oxford, na Inglaterra.
Não podemos fazer nada pra mudar o destino. Ok. Mas se coisas como o rosto dos seus netos e o dia da sua morte estão “impressas” na natureza desde sempre, seria exagero pensar que, algum dia, a ciência poderia usar a matemática e a física para prever isso e tudo o mais? “Não teria como. Mesmo que cada evento do futuro seja baseado numa fórmula matemática já determinada, e é o que eu acredito, não daria para a gente saber quais fórmulas são essas antes que os próprios eventos acontecessem”, considera o físico Gerardus Hooft, da Universidade de Utrecht e vencedor do Nobel de física de 1999.
“Nenhum computador teria como decifrar a natureza, já que nada pode computar mais rápido que o Universo”, completa o holandês.
Sir Roger Penrose, da Universidade de Oxford e considerado o maior especialista em Relatividade do planeta, concorda: “Mesmo que o mundo seja completamente determinado, como diz a teoria, ele certamente não é computável”.
É isso aí: os horoscopistas podem tirar seus cavalos da chuva. Pelo jeito, o futuro vai continuar no breu, por mais que já esteja escrito em algum lugar.
Mundos paralelos
Mas tudo é determinado, então? Não exatamente. Existe mais um mundo mágico, onde o tempo e o espaço não fazem sentido. Um jogo de futebol por lá, aliás, seria ainda mais bizarro que o do mundo de Einstein: quando o Ronaldo de lá parte com a bola dominada, ele se divide em 10, 20, 30 Ronaldos. E cada uma dessas cópias chega ao gol por um caminho diferente.
Mas aí vem o pior: nenhum torcedor consegue ver esse milagre da multiplicação. Cada um enxerga um único jogador, dando uma única arrancada.
E agora, a bomba: nosso mundo também funciona desse jeito. Mas, pra tristeza das aspirantes a Daniela Cicarelli, só na escala das coisas absurdamente pequenas, a das partículas subatômicas. “Sub” mesmo: se um átomo fosse do tamanho da Terra, um elétron não seria maior que uma bola de futebol.
A realidade de partículas que nem o elétron, a da física quântica, segue uma lógica que não faz sentido aqui no mundo das coisas grandes: tudo vive em um monte de lugares ao mesmo tempo. Se você fosse uma partícula subatômica, teria cópias-fantasma suas em Nova York, Paris e Plutão neste momento. Vocês estariam em lugares diferentes mais seriam a mesma pessoa, com a mesma consciência.
Isso só não acontece porque as bizarrices do universo quântico não existem no mundo das coisas maiores – o dos átomos inteiros, moléculas, planetas...
É como se a nuvem de cópias-fantasma das partículas fosse esmagada pelo “peso” das coisas grandes.
Essa nuvem, afinal, é o que há de mais delicado e indeterminado. Os próprios equipamentos usados para detectar partículas acabam com ela. E tudo o que os cientistas conseguem ver quando tentam olhar para a nuvem de cópias-fantasma é uma partícula solitária. Essa sobrevivente aparece em qualquer parte da nuvem, num lugar impossível de prever. E seus clones somem, como se tivessem sido só parte de um sonho.
Ou não. Muitos físicos acham que o nosso mundo é tão onírico quanto o subatômico. Para eles, quando algum pesquisador tenta olhar as infinitas partículas-fantasma da nuvem quântica e só consegue ver uma, não é que as outras evaporaram: é que o cientista se dividiu em cópias infinitas, espalhadas por universos paralelos! Exatamente. É o que diz a teoria dos Mundos Múltiplos, moldada pelo físico norte-americano Hugh Everett em 1957. Ela diz que, se a partícula solitária que surgiu daquela nuvem de clones pode aparecer aqui, lá ou acolá, você também pode. Uma versão de você em um universo vai encontrar a partícula aqui. Outra, em um segundo universo, encontra ela lá. Uma terceira, acolá. Sem limite nenhum.
A idéia é que a gente vive numa infinidade de universos, cada um com a sua realidade particular. E o conjunto desses cosmos pode ser chamado de “Multiverso”: um lugar onde tudo o que pode acontecer vai acontecer. Tudo mesmo. Se você encontrou alguém atraente numa festa, por exemplo, e não teve coragem de puxar conversa, pode ter certeza que, em algum universo paralelo, uma cópia sua chegou nela. E levou um fora. Num terceiro, a cantada deu certo. Num quarto mundo paralelo, vocês se casaram. E por aí vai: com um sem-número de universos, as possibilidades da vida também seriam infinitas.
Viu o que a gente tem aí? Um futuro aberto pra qualquer coisa. Justamente o que a Teoria da Relatividade não aceita. “Nem a Relatividade nem qualquer outra teoria em que uma decisão leva a um só resultado são compatíveis com o livre-arbítrio. Já o Multiverso, com seus inúmeros mundos, não tem esse problema”, diz o físico inglês David Deutsch, da Universidade de Oxford, maior defensor da teoria hoje.
Bom, o que ninguém imagina é como a liberdade de escolha funcionaria nesse cenário sem bater de frente com Einstein. Uma hipótese, levantada por Greene, é que nós “pularíamos” entre um e outro universo paralelo cada vez que uma decisão fosse tomada. Tipo: se você resolve cantar aquela pessoa da festa, vai parar em um universo onde essa é a realidade já escrita. Se ela dá bola, vocês partem para um cosmos onde os dois ficam juntos.
Como esses pulos transcendentais aconteceriam? Ninguém imagina. “O certo é que os conceitos de identidade pessoal e de livre-arbítrio teriam de ser interpretados num contexto mais amplo, já que infinitas cópias de você e de mim estariam espalhadas por universos paralelos", escreveu o físico em seu livro.
Você decide
A teoria está aí, bonitinha. Mas cadê a prática? Bom, o jeito mais viável de tentar provar que os universos paralelos existem mesmo, segundo os apoiadores da teoria, é verificar se outras formas de matéria se comportam de um jeito tão bizarro quanto as partículas subatômicas, pelo menos em laboratório. Ou seja: ver se coisas realmente grandes também podem ficar em vários lugares ao mesmo tempo.
Para alguns, isso seria como fazer as cópias que moram em outros cantos do Multiverso aparecerem por alguns segundos. Mais: deixaria claro que nossa identidade pessoal pode mesmo se repartir por uma infinidade de universos paralelos. Não faltam tentativas de fazer algo assim. O físico austríaco Anton Zeilinger, pioneiro nesse tipo de experiência, e que já colocou moléculas grandes, formadas por dezenas de átomos, em mais de um lugar ao mesmo tempo, estuda fazer isso com um vírus. Cientistas renomados, como Max Tegmark, do MIT, acham que isso pode provar a viabilidade dos universos paralelos. Para eles, se os vírus tiverem alguma forma primitiva de consciência, essa “mente” deles apareceria repartida em vários mundos. Daí para repetir a experiência com um corpo maior, como o meu ou o seu, seria questão de tempo.
Fechou, não? Para vários físicos ouvidos pela Sapiens, não mesmo. O próprio Zeilinger é contra a idéia: “Pra mim, colocar luz, átomos ou até bactérias vivas em vários lugares ao mesmo tempo não prova nada sobre universos paralelos. Essa teoria, aliás, me parece mais uma tentativa desesperada de aplicar nosso conceito de realismo ao mundo quântico. Só isso”. O austríaco está em boa companhia: “Penso que a estrutura dos mundos múltiplos só exista por um tempo infinitesimal. Muitos consideram que o colapso deles é uma ilusão ou algo assim. Eu não: do meu ponto de vista, ela é expulsa da realidade por um processo físico real”, diz Penrose.
Mas a teoria tem partidários de peso, como o alemão Dieter Zeh, que formulou boa parte da física quântica moderna: “É psicologicamente difícil para a maior parte dos cientistas aceitar interpretações como a dos universos paralelos. Mas acho que ainda não existem muitas possibilidades de derrubar essa hipótese”, afirma o cientista, da Universidade de Heidelberg. Só que até David Deutsch está entre os que acham “psicologicamente difícil” lidar com a teoria, pelo menos quanto ao poder que ela tem de abrir portas para o livre-arbítrio: “O Multiverso pode ser compatível com a liberdade de escolha, mas não consegue explicá-la. Não acho que estamos sequer perto de entender o que é, no fim das contas, o livre-arbítrio”.
E você? De que lado fica? Toda a liberdade de escolha do mundo está aí pra você decidir. Ou não







Como será a inteligência artificial depois do computador Watson

Watson, o novo supercomputador da IBM, assombrou o mundo ao se comportar como um humano. Mas as máquinas ainda têm um obstáculo pela frente antes de dominar o mundo: a nossa burrice

por Pedro Burgos e Alexandre Versignassi


"Watson derrota a humanidade." Essa foi uma das manchetes para a vitória de Watson, um computador que ganhou dos melhores competidores que a raça humana tinha disponível no Jeopardy!, um jogo de perguntas e respostas da TV americana. Pudera: Jeopardy! é um jogo complexo. Para humanos, inclusive. São perguntas furtivas, tipo: "Isso é só um nariz sangrando! Você não tem essa doença genética que já foi endêmica entre a realeza europeia. Qual é a doença?". Watson acertou: hemofilia. Acertou essa e outras dezenas de perguntas capciosas - e, como seus concorrentes humanos, não estava ligado à internet. Tudo o que ele tinha à disposição era uma memória de 15 mil gigabytes com alguns milhões de textos arquivados e uma capacidade de processamento equivalente à de 2 800 micros caseiros. Um computadorzão bem programado, só isso. 

E tudo isso: para responder perguntas nessa linha, um computador precisa entender a linguagem falada e ter um raciocínio capaz de fazer associações inesperadas. Até fevereiro, isso era exclusividade de humanos. Mas e agora, que perdemos para esse ser gelado? Dá para dizer que a inteligência artificial está se equiparando à nossa inteligência? 

O debate está pegando fogo. De um lado, há os que vibram com Watson e similares e acreditam que os computadores vão superar logo a inteligência humana. A outra corrente diz que, por mais complexo e surpreendente que seja o feito de um computador, ele nunca será comparável ao de uma pessoa. Seriam duas inteligências distintas. 

O termo "computador" denunciaria isso, por sinal. Até a metade do século 20, "computador" era uma profissão. Eram pessoas responsáveis por fazer cálculos longos - como pegar um monte de dados astronômicos e calcular quando um cometa passaria de novo pela Terra. Pessoas inteligentes, claro. Mas e hoje? Bom, hoje inteligente é quem bola o programa para que o computador resolva as contas. 

Toda vez que conseguimos delegar uma função para máquinas, a tarefa perde a nobreza. Isso aconteceu até na derrota do campeão Kasparov para Deep Blue em 1997. Enquanto os defensores da inteligência artificial comemoravam, os da humanidade saíram-se nessa linha: "Bom, xadrez é só um jogo de análise estatística bruta. Não requer inteligência de verdade". Com a vitória no Jeopardy! pode acontecer a mesma coisa: "Computadores vão bem? Ah, o jogo não é nada de mais". 

Mas e se habilidades que consideramos pessoais e intransferíveis da nossa espécie puderem ser executadas por máquinas sofisticadas? Como ficamos? Se quisermos reduzir as habilidades do Homo sapiens a instruções de programação, o talento para a poesia, por exemplo, pode ser descrito como um programa capaz de achar uma boa combinação de palavras. E daria para definir um líder político como um sujeito com um bom software para analisar riscos e oportunidades. 

Não é fantasia. O próprio Watson pode servir para tarefas bem mais humanas que responder perguntas. Programado adequadamente, ele pode fazer diagnósticos com mais precisão que um médico - da mesma forma que uma calculadora de bolso é mais rápida que qualquer gênio da matemática. O supercomputador tem como ouvir relatos orais de pacientes e cruzar os sintomas com o banco de dados de toda a literatura médica em segundos. É mais do que qualquer Dr. House pode fazer. Mas isso torna os humanos dispensáveis? Não. Por mais que uma máquina consiga feitos mirabolantes, ela vai ser sempre uma ferramenta que depende de humanos. Um "computador médico" precisa de médicos para ser programado. Os cérebros humanos por trás são tão importantes que o próprio Watson errou questões por bobeira de programação. Um dos deslizes: perguntaram qual categoria da elite do automobilismo tem o nome de uma tecla de computador. "F-1" era a resposta. Qualquer batedeira tem capacidade de processamento para cruzar uma lista de nomes de teclas com uma de categorias de corridas. Mas a coisa mais próxima que Watson tinha para dizer era "Nascar". Falha dele? Não, dos programadores - a Fórmula 1 é solenemente ignorada nos EUA. 

O erro nessas horas é imaginar que as máquinas são uma espécie à parte. Computadores são só alicates e martelos mais complexos. E quando você marreta o dedo não é culpa da natureza do martelo, mas sua, que não soube "programar" a martelada. A vida é melhor com martelos. Com supercomputadores também. A vitória de um é uma vitória da humanidade. E sempre será, mesmo no dia em que uma máquina puder escrever um texto como este bem melhor do que a gente.

Cientistas conseguem “congelar” a luz por um minuto


Pesquisadores alemães conseguiram congelar a luz por um minuto, um recorde. O feito pode representar um grande avanço no armazenamento de memória quântica e processamento da informação.
luz
A razão para querer manter a luz em seu lugar é para garantir que ela mantém suas propriedades de coerência quântica, ou seja, o seu estado de informação, o que torna possível a construção de memória quântica à base de luz e saber em quanto tempo a luz poderia ser mantida, no que diz respeito na medida em computação. Assim, ela poderia permitir comunicações quânticas mais seguras em longas distâncias.
Como se pode imaginar, prender a luz não é tarefa fácil, já que ela é uma radiação eletromagnética que se move a 300 milhões de metros por segundo. Em apenas um minuto, ela pode viajar cerca de 18 milhões de quilômetros ou 20 viagens de ida e volta para a lua.
Entretanto, a luz pode ser desacelerada e até mesmo parada completamente. E, de fato,os pesquisadores conseguiram mantê-la por 16 segundos utilizando átomos frios.
Para esta experiência, o pesquisador Georg Heinze e sua equipe converteram a ligação de luz em ligações atômicas. Isso foi feito utilizando um efeito de interferência quântica que torna um meio de opacidade – neste caso, um cristal – transparente sobre uma escala estreita dos espectros de luz (um processo chamado Electromagnetically Induced Transparency, em português, Transparência Induzida por Eletromagnetismo). Os pesquisadores dispararam um laser nesse cristal (uma fonte de luz), que enviou seus átomos em uma superposição quântica de dois estados. Em seguida, um segundo raio desligou o primeiro laser e, como consequência, a transparência. Assim, os pesquisadores reduziram a superposição e prenderam o segundo feixe de laser no interior.
Assim, ele provaram a realização do armazenamento e, em seguida, recuperaram com êxito a informação, na forma de uma imagem de 100 micrômetros de comprimento, com três listras horizontais sobre ele.
“O resultado supera as manifestações anteriores em gases atômicos por aproximadamente seis ordens de magnitude e oferece excitantes possibilidades de memórias de armazenamento quânticos de longa data que são espacialmente multiplexados, ou seja, podem armazenar diferentes bits quânticos como pixels diferentes”, afirmou o físico Hugues de Riedmatten, em um artigo de revisão de física associado.
No futuro, os pesquisadores tentarão usar diferentes substâncias para aumentar ainda mais a duração do armazenamento de informações.

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