Visitante interestelar pode ser nave espacial, segundo pesquisador de Harvard
Identificado como um ponto de luz rápido e tênue, possui uma trajetória hiperbólica e pode ter vindo de outro sistema
Antes dele, pelo menos dois objetos interestelares haviam sido confirmados: o enigmático 1I/‘Oumuamua em 2017 e o cometa 2I/Borisov em 2019. Agora, o 3I/ATLAS (perceba a sequência 1I, 2I e 3I, a letra "I" é de interestelar) entra para esse seleto clube, trazendo consigo pistas sobre os confins do universo.
Descoberto pelo sistema ATLAS (Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System), uma rede de telescópios robóticos espalhados pelo Havaí, Chile e África do Sul, o 3I/ATLAS foi identificado como um ponto de luz rápido e tênue. Mas não demorou para os astrônomos perceberem que ele se movia em uma trajetória hiperbólica.
A forma da trajetória é importante para identificar se o objeto astronômico já faz parte do Sistema Solar ou se veio de outro sistema estelar. Quando a trajetória do astro segue uma elipse, significa que pertence ao nosso sistema. Pois a elipse é uma curva fechada indicando que o corpo está preso a gravidade do Sol, portanto ele daria várias voltas ao redor do astro-rei.
Nave espacial?
Existe a hipótese de quê o objeto possa ter propulsão. Pois ele possui aceleração não gravitacional, ou seja, não é apenas o Sol que o está puxando pela força gravidade. Essa hipótese é defendida por um renomado professor da universidade de Harvard, o famoso Prof. Avi Loeb. Todavia, o cientista concorda que essa possibilidade é ínfima e outras mais mundanas devem ser verificadas antes.
Uma das possíveis explicações para sua propulsão é a desintegração. Diferente de ‘Oumuamua, que passou por aqui como uma pedra misteriosa sem cauda, o 3I/ATLAS exibe uma causa de cometa clara — uma coma brilhante de gás e poeira, formada pela evaporação principalmente de gelo.
Este é um comportamento comum dos cometas. A medida que o gelo evapora, a massa deixada para trás impulsiona o cometa semelhante a um foguete.
O cometa está se deslocando a cerca de 60 km/s — mais rápido que seus predecessores. Essa alta velocidade pode ser resultado de estilingue (ou baladeira, em bom “cearês”) gravitacional com planetas gigantes, estrelas vizinhas, ou buraco negro em seu sistema natal.
Devido a essa velocidade acima do normal, o Professor Avi Loeb, não descarta a possibilidade de ser uma assinatura tecnológica. Além disso, o cometa está entrando no plano do Sistema Solar como se quisesse observar os planetas. As chances disso ocorrer naturalmente é de 0.2%.
Outra característica estranha é que o objeto tem um brilho incomum na parte da frente como se fosse um farol. Contudo, a maioria dos cientistas está cética quanto a esta possibilidade e aceitam que o objeto tem comportamento de cometa mesmo.
Observação do cometa interestelar
Não apenas os grandes observatórios que estão de olho. A rede UNISTELLAR, composta por telescópios inteligentes operados por cidadãos ao redor do mundo, está monitorando o cometa em tempo real.
É possível observar o astro com um telescópio amador. Recomendo telescópio com abertura superior a 200 mm. É possível encontrá-lo na constelação de Sagitário, inclusive ele veio de lá, do centro da nossa galáxia, onde existe um enorme buraco negro. Ele pode ter escapado de uma região chamada horizontal de eventos.
Ele permanecerá visível até setembro. Se aproximará do Sol que ofuscará seu brilho. Ele voltará a ficar visível em dezembro quando se afastar do Sol. O gelo contido nele pode ter bilhões de anos. Dessa forma, O 3I/ATLAS é mais do que um ponto brilhante no céu.
É uma cápsula do tempo, uma mensagem de um sistema estelar distante. Sua passagem nos lembra que o universo é vasto, misterioso e — acima de tudo — conectado.
Então, caro leitor, da próxima vez que olhar para o céu noturno, lembre-se: há viajantes cruzando o cosmos, e um deles está nos visitando agora. E como diria o poeta do sertão, “o céu é grande, mas cabe no olhar de quem sonha”.
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