SUDÁRIO o senhor dos Mistérios
O Sudário de Turim
Por
Rodrigo Pereira Silva, Phd
Arqueólogo
e prof. de Teologia do UNASP
O
Sudário de Turim é um pano que, segundo creem alguns, teria impressa de maneira
miraculosa a imagem de Jesus. Há anos está guardado numa igreja em Turim e o
tecido só é apresentado ao publico a cada dez anos. O tempo da exposição pode
variar entre poucos dias até um mês e meio, e gente do mundo inteiro vai até a
Itália para ver de perto a tão valiosa relíquia. Os que defendem a veracidade do
pano e do milagre que supostamente teria impresso a face de Jesus no tecido
entendem que essa teria sido a mortalha original ou o sudário que cobriu o corpo
do Senhor quando Seus discípulos o retiraram da Cruz. Talvez a palavra “sudário”
seja estranha ao vocabulário de muitos porque caiu em desuso e necessita ser
explicada.
Então
vamos lá: a palavra “sudário” vem do latim Sudor que
quer dizer “suor”; era, portanto, um antigo lenço para enxugar o suor do corpo.
Frequentemente, nos tempos antigos – especialmente na época da Roma imperial –,
sudários eram também usados para envolver corpos de pessoas mortas antes de
serem depositados no túmulo. De fato, de acordo com os evangelhos, José de
Arimateia, juntamente com outros discípulos, envolveu o corpo sem vida de Jesus
num pano limpo de linho e o colocou no sepulcro de sua família. Mas, na manhã do
domingo, Cristo voltou à vida deixando para trás os lençóis que o cobriram como
prova de Sua ressurreição.
E
então? Seria o Sudário de Turim esse pano? Estamos diante de um objeto
autêntico? Bem, deixe-me em primeiro lugar dizer que, como pesquisador e ao
mesmo tempo seguidor de Jesus Cristo, eu não teria dificuldade em acreditar que
Deus poderia preservar uma relíquia como prova da ressurreição de Seu Filho. Por
outro lado, porém, minha fé no cristianismo não depende da autenticidade do
Sudário de Turim. Em outras palavras, não creio que meu cristianismo seja
abalado se amanhã a igreja anunciar oficialmente que essa peça não é real. Mas
uma coisa devemos admitir: a afirmação por detrás desse objeto é tão forte que,
se ele for verdadeiro, estaremos diante do maior achado de todos os tempos,
comparável ao Santo Graal ou à Arca da Aliança. Porém, se for falso, é a pior
demonstração de má fé da história do cristianismo.
Antes,
porém, de examinarmos os fatos, é bom esclarecer que, embora muitos teólogos e
líderes religiosos tenham defendido com veemência a veracidade dessa relíquia, a
própria hierarquia da Igreja Católica em Roma tem procurado assumir uma postura
mais moderada nesse sentido. Num pronunciamento feito em 24 de maio de 1998, o
falecido papa João Paulo II disse o seguinte acerca do Santo Sudário: “Uma vez
que isso não representa um assunto de fé, a Igreja não tem nenhuma competência
específica para se pronunciar sobre essas questões. Ela prefere confiar aos
cientistas a contínua tarefa de investigar, de modo que algumas respostas mais
satisfatórias possam ser obtidas em relação a esse lençol.”
Quando
o Sudário foi pela primeira vez exposto ao público, em 1357, o Bispo de Troyes
Henri de Poitiers afirmou que o pano era uma fraude e que ele mesmo conhecera o
artista que havia feito a pintura. Trinta anos depois, o sucessor de Henri,
Pierre d’Arcis, escreveu uma longa carta ao papa Clemente VII, na qual repete a
mesma posição de seu antecessor quando ao Santo Sudário. Ele também afirma que o
pano eramanifactus,
isto é, feito por obra humana e artificialiter
depictus, artificialmente desenhado ou pintado.
O
papa decidiu então não proibir a exibição da relíquia, mas ordenou que o bispo
alertasse o povo de que não se tratava do corpo de Cristo e, sim, de uma
representação artística dele.
É
claro que também houve simpatia eclesiástica para com a relíquia. Em 1578, o
arcebispo de Milão, Charles Borromeo, peregrinou a pé até Turim apenas para
reverenciar o tecido. Depois, em 1670, um ofício papal garantiu indulgência,
isto é, perdão, a quem fosse orar diante do Sudário. Mas note que em momento
algum, desde aqueles dias até hoje, nem o magistério da igreja ou mesmo o papa
oficialmente se pronunciaram declarando a autenticidade do tecido, e isso mesmo
se mostrando simpáticos à veneração da relíquia.
Aliás,
o próprio papa Bento 16 foi pessoalmente a Turim em maio de 2010 para ver o pano
e o descreveu como um extraordinário ícone. Seu antecessor, o papa João Paulo
II, também esteve lá e venerou a relíquia.
Mas,
se é assim, por que eles nunca o declararam oficialmente verdadeiro? Na época em
que Bento 16 visitou Turim, alguns jornalistas publicaram: “O papa bento 16
endossou o Sudário de Turim, mas se esquivou de declará-lo oficialmente como
sendo a mortalha que cobriu Jesus.”
Por
que esse silêncio eclesiástico de séculos acerca do assunto? É algo em que se
pensar. A igreja nunca se mostrou tão tímida a oficializar algo milagroso que
ela considerava verdadeiro, como foi o caso da aparição de Fátima. Por que,
então, essa timidez em relação ao Santo Sudário?
Bem,
seja como for, podemos estar certos de que até o presente momento não há nenhuma
orientação oficial católica no sentido de que seus fiéis tenham de acreditar na
autenticidade do medallion,
como o pano foi apelidado pelos franceses. Mas, conforme já mencionamos, a
tradição apregoada por alguns diz que essa seria a mortalha original que cobriu
o corpo de Jesus durante Seu sepultamento; contudo, a história desse pano só
pode ser traçada com segurança até o ano 1357, quando ele foi pela primeira vez
exposto ao público em Lirey, uma vila perto de Troyes, no norte da França. Fora
disso, qualquer tentativa de traçar uma “caminhada” do pano desde a Palestina
até a Europa é altamente romanceada e especulativa.
Mesmo
entre os historiadores que defendem a autenticidade do Sudário, não há harmonia
de opiniões. Uns, como Ian Wilson, dizem que o Sudário de Turim foi a mesma
relíquia conhecida como Imagem de Edessa; outros, como Averil Cameron, negam
completamente essa hipótese. O fato é que mesmo os mais ardorosos autores
católicos admitem que há duas fases da história do pano, e ambas são divididas
pelo ano 1357, aproximadamente. Daquele ano para trás, o que se diz tem alta
dose de conjectura e nenhuma evidência factual. São autores católicos que
admitem isso.
De
acordo com o site oficial da Associação para Educação e Pesquisa do Sudário de
Turin, criada em defesa da relíquia: “Embora haja significativa coleção de
evidências sustentando a existência do Sudário antes do ano 1300, a maioria
delas é, de fato, ‘circunstancial’ e permaneceu em sua maioria sem nenhuma
comprovação.”
E
agora se prepare para uma informação no mínimo curiosa: a própria Enciclopédia
Católica, linkada na
página do New Advent, traz na versão inglesa do verbete “O santo Sudário de
Turim” um artigo no qual assume a posição de que o pano não é a imagem real de
Jesus, mas uma pintura feita na Idade Média. Surpreendente, não é mesmo?
vejo o Vídeo do Discovery
http://www.youtube.com/watch?v=h_1_ag_H6Kk
vejo o Vídeo do Discovery
http://www.youtube.com/watch?v=h_1_ag_H6Kk
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