ARQUEOLOGIA: novas descobertas elevam para 255 os Geoglífos encontrados no Acre

ARQUEOLOGIA: novas descobertas elevam para 255 os Geoglífos encontrados no Acre


Coordenados pela arqueóloga Denise Schaan, um grupo de pesquisadores já identificou e catalogou a existência de 255 geoglifos na parte leste do Acre como decorrência de um esforço para fazer um amplo levantamento regional desses sítios arqueológicos.
Os geoglifos são figuras formadas por valetas com largura média de 11 metros, tendo cada valeta de 1 a 4 metros de profundidade. A técnica construtiva inclui muretas de 6 a 8 metros com meio metro de altura. As figuram chegam a medir em média de 100 a 200 metros. Eles possuem, ainda, caminhos com 20 metros de largura.
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Geoglifo em Capixba (AC)
Geoglifo em Capixba (AC)
Os geoglifos, que foram construídos entre os seçulos I e X, serviam para diversas funções: moradia e plantação (aldeias fortificadas), encontros, festas, rituais. Estão localizados em áreas de interflúvio, entre os divisores de água dos rios Acre, Iquiri e Abunã.
Essas imensas estruturas só se tornaram visíveis após o desmatamento da região e estão na forma de círculos, elipses, quadrados, retângulos, hexágonos, octógonos e meia lua, além de formas irregulares.
Os geoglifos do Acre fizeram parte neste ano da lista indicativa do Instituto Nacional de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) encaminhada à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) recomendando que sejam avaliados para possível tombamento como patrimônio cultural da humanidade, a exmeplo das Pirâmides do Egito, Muralhas da China e as Ruínas de Machu Picchu.
Geoglifo parcialmente coberto pela floresta
Geoglifo parcialmente coberto pela floresta
Os próximos passo dos pesquisadores será selecionar geoglifos para escavar para entender suas funções e estabelecer uma cronologia, realizar inventário de espécies vegetais que nasceram sobre os geoglifos, realizar estudos de solo (fertilidade, áreas de atividade) e estudar composição flora na época da construção dos geoglifos.
As pesquisas têm sido intensificadas. Recentemente, por exemplo, foram descobertos diversos novos geoglifos no município de Acrelândia, onde predminam as figuras retangulares, acompanhadas, às vezes, de outras estruturas complexas. Na semana passada, durante um sobrevôo, foram feitas fotos inéditas de novos geoglifos.
Google Earth
Usuários do Google Earth ou Maps Google podem apreciar alguns dos geoglifos do Acre, a partir das seguintes coordenadas: (10°12′13.32″S 67°10′18.09″W), (10°22′1.61″S 67°43′24.89″W), (10°18′24.51″S 67°13′12.50″W), (10°13′49.01″S 67° 7′26.71″W), (10°17′14.08″S 67° 4′32.97″W), (10°13′5.25″S 67° 9′28.94″W), (10°18′ 06.64″S 67° 41′41.55″W), (10°11′27.65″S 67°43′20.11″W).
ENTREVISTA Denise Schaan, atual presidente da Sociedade Brasileira de Arqueologia, conversou com o Blog da Amazônia:
Arqueóloga Denise Schaan
Arqueóloga Denise Schaan
O que há de novo em relação aos geoglifos do Acre?
Temos 255 geoglifos e cada vez que a gente começa a explorar uma área diferente encontramos mais e mais. Eles não estão apenas nas áreas desmatadas, mas dentro da floresta também. É um trabalho que vai demandar muitos anos de estudos. Temos nos surpreendido com a complexidade de algumas estruturas que temos encontrado, com montículos e muretas lineares, que formam outros tipos de espaços, que levam para outros lugares. Não é apenas aquele geoglifo que nos induz a acredita que ali existiu uma aldeia, mas algo muito ampliado em termos de ocupação.
Você continua convencida de que os geoglifos questionam os estudos que concluem que a presença de populações primitivas na Amazônia era restrita às margens dos rios?
Sem dúvida. A gente tinha conhecimento da existência de valetas, de estruturas defensivas, no Alto Xingu. Nessas áreas de interflúvio para terra firme, que a gente achava que só havia povos nômades ou aldeias que estavam sempre mudando de lugar, temos visto indícios de estruturas mais permanentes cujo espaço foi ocupado por um grande número de pessoas por um longo período de tempo. Essa região do Acre merece um estudo especial porque está afastada do curso do Rio Amazonas, mais próxima dos Andes. Estamos num ambiente que está no caminho entre duas coisas. Povos andinos faziam trocas com povos da Amazônia. Esses geoglifos podem indicar um local de passagem que a gente ainda não conhece.
Esses povos poderiam ser aruaque?
A gente sabe, a partir de dados etno-históricos, que os aruaque se distribuíram, a partir das Antilhas, em toda a borda amazônica. Eles usavam essas aldeias mais ou menos circulares, grandes áreas de praças, com as casas em volta. Eles também têm o costume de fazer essas estruturas defensivas, tipo valetas, muretas e estradas. É muito provável que foram povos aruaque que habitaram os geoglifos.
Qual incógnita precisa se respondida em relação aos geoglifos?
O que acho mais intrigante até agora é o fato de termos encontrado indícios de moradia em alguns e em outros não. Parece que alguns foram construídos para utilização em um único evento. Que evento seria esse? Outra incógnita é saber qual era a vegetação nativa na época da construção dos geoglifos. Precisamos saber se era uma savana aberta ou se era uma floresta. Se era floresta, eles tiveram que destruí-la para construir essas estruturas. Temos encontrado cerâmicas e lâminas de machados de pedra. Os machados não são do Acre. Pedra é um material que existe em Rondônia, mas não no Acre. Podemos deduzir que são instrumentos de troca. Como se deslocavam de um local para outro tão longe? Certamente todos eles estavam em contato, do contrário não teria como se expandir toda essa mentalidade que está por trás dos geoglifos.
E a proteção desse patrimônio arqueológico?
Acho que deveria ser feita uma grande campanha para a proteção desses geoglifos. Não acho que se deva criminalizar a situação. A gente tem um evento de um geoglifo que visitamos em Acrelânida cuja maioria dele está dentro da mata. Quando o proprietário chegou naquela área, a floresta já estava desmatada, mas ele decidiu que não derrubaria o resto porque compreende que é importante para estudos. Sei que não vamos conseguir preservar todos, mas é importante campanhas de sensibilização nesse sentido.
Mais fotos no site Geoglifos.
Ramal Floresta, em Acrelândia
Ramal Floresta, em

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